O estudo
está sendo efetuado por institutos brasileiros.
Dentro de dois meses, pesquisadores do Instituto Alberto Luiz Coimbra de
Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (Coppe/UFRJ), do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e
Tecnologia (Inmetro) e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC Rio) vão apresentar um tecido antiviral para máscaras que oferece maior
proteção aos profissionais da área de saúde contra a covid-19. A informação foi
dada hoje (7) à Agência Brasil pela
professora Renata Simão, dos Programas de Engenharia de Nanotecnologia e de
Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Coppe. O tecido está sendo produzido
no Laboratório de Engenharia de Superfícies da Coppe/UFRJ.
Renata esclareceu que, no momento, os pesquisadores estão desenvolvendo, na verdade,
produtos que vão ser colocados em um tecido normal de algodão, para fazer com
que esse tecido comum tenha propriedades aprimoradas e atinja, até, o nível de
uma máscara similar à N95. “O que a gente está fazendo não é desenvolver o
tecido e, sim, estamos modificando o tecido para garantir que ele tenha
propriedades aprimoradas pelas modificações que fazemos nele”, explicou. As
pesquisas envolvem também a inclusão de papel entre esses produtos. “A gente
inclui também partículas que são antivirais, que vão matar o vírus”.
Para Renata, a grande vantagem é que, por se tratar de um algodão comum, que
é biodegradável, o material que for descoberto não vai fazer mal à natureza.
Além de ser descartável, ele poderá ser reutilizável e, mesmo quando for descartado,
é biodegradável, ou seja, ainda assim não gera lixo.
“Esse é um ponto que, para a gente, é muito fundamental e importante”.
Tecido hidrofóbico
O tecido que vem sendo desenvolvido é chamado hidrofóbico (impermeável). O
vírus, normalmente, é transportado através de gotículas, como de saliva, por
exemplo, que a pessoa expele. Essas gotículas, ao entrar em contato com esse
tecido que está sendo desenvolvido, não conseguem penetrar e vão escorrer. “E
se, por acaso, penetrarem, tem uma camada interna que vai conter, com
nanopartículas que vão matar o vírus”.
A princípio, os pesquisadores pensam em fazer uma máscara com três camadas,
sendo a primeira de conforto, perto do rosto; a segundo no meio, incluindo
nanopartículas; e a terceira, externa, com um recobrimento hidrofóbico, “que
também é biocompatível e biodegradável”, reforçou Renata. Disse que algumas
camadas podem ser feitas também com papel modificado. “A gente pensa na externa
e na do meio com papel”.
Testes
Os testes para a caracterização e constatação da eficácia das nanopartículas
estão sendo realizados no Laboratório de Microscopia Eletrônica do Inmetro.
Carlos Achete, especialista em Metrologia de Materiais do Inmetro e coordenador
do projeto denominado Tecidos Hidrofóbicos e Ativos para Substituição do TNT
Hospitalar, comentou que “caso seja comprovada a eficácia (do tecido), o
país poderá ter acesso a uma tecnologia que proporcionará mais segurança e
risco reduzido da contaminação, inclusive em ambiente hospitalar, onde é mais
frequente. E o melhor: a um custo-benefício acessível à sociedade”.
O processo de testes e sua verificação, visando a certificação do produto,
são responsabilidade da coordenadora da Central Analítica do Departamento de
Química do Centro Técnico Científico (CTC/PUC Rio), professora Gisele Birman
Tonietto. Gisele aposta que o importante “é atendermos às demandas da
sociedade, com toda ‘expertise’ que a universidade tem. Em um momento de
urgência, poder viabilizar um conhecimento acadêmico em prol dos profissionais
de saúde só reafirma o valor que deve ser dado à ciência e à pesquisa no
Brasil”.
Os testes de respiração e saturação de CO2 (dióxido de carbono) têm sido
feitos em parceria com laboratório da Coppe. Renata Simão informou que 15
pesquisadores das três instituições, entre professores e alunos, participam do
projeto.
Produção industrial
Ela afirmou que a partir da conclusão do tecido, prevista para daqui a dois
meses, ele já estará pronto para iniciar a produção industrial. A pesquisa já
tem um projeto piloto correndo em paralelo, para “tentar produzir o mais rápido
possível. Mas ainda este ano, com certeza”, manifestou. A empresa parceira para
a produção já foi prospectada.
Renata disse que o custo da máscara para os profissionais da saúde pode ser
reduzido com a descoberta desse tecido modificado, em comparação com uma N95 ou
outra máscara existente no mercado que oferece maior proteção. “A gente
acredita que vai entrar com grande competitividade”. A meta é fabricar, “no
mínimo”, 500 máscaras de tecido hidrofóbico por semana para serem doadas.
Na avaliação da professora da Coppe/UFRJ, o mais importante no
desenvolvimento desse tecido especial é a parceria da pesquisa no Brasil. “A
gente está agregando diferentes competências de diferentes instituições e
fazendo com que o produto nasça dessas diferentes competências. Eu acho que
isso é a coisa mais importante, além do apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), que é indispensável”.
Acrescentou que nesse momento de pandemia e de negacionismo da ciência, as
fundações de amparo à ciência do Brasil inteiro estão demandando e financiando
a pesquisa, o que é extremamente positivo. Segundo Renata Simão, há cerca de
dez anos, havia uma certa resistência, inclusive, em se trabalhar em equipe, em
rede, com outras instituições. Esse projeto do tecido antiviral mostrou que
isso pode ser possível. A ideia não veio de uma universidade ou instituto em
especial. “Veio da união de três projetos que já aconteciam e que só puderam
tornar real o produto que vai sair daqui a dois meses a partir da parceria. Se
eu tentasse fazer sozinha, ia demorar dois anos”.
Edição: Valéria Aguiar
Publicado em 07/08/2020 – 16:20 Por Alana
Gandra – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro