Toda unanimidade é burra, dizia Nelson Rodrigues. Já na política e, especialmente na relação Executivo e Legislativo, ela tende a ser fruto de corrupção, daí ela não é apenas burra, é também venal e corrupta. Traduz em traição à própria dignidade, se é que “sua excelência” vereador/deputado/senador um dia realmente chegou a possuí-la, além de “chifrar” o coitado do cidadão que ingenuamente acreditou na hombridade do vetusto, em tempos de falsos santinhos, promessas vans e amizades fáceis, quando tudo se pode resolver de cima de um palanque (o melhor seria picadeiro, mas nesse caso os palhaços são vistos na plateia, daí é palanque mesmo) em discursos inflamados e ávidos em colher crença traduzida nos aplausos da turba que os ovacionam, traduzindo o ardil intento de colher riqueza e poder fáceis nos sorrisos mateiros desta criatura transvertida em homens de bem, mas que na verdade são corvos em busca de desprotegidas searas.
Eleitos por aqueles desavisados, que um dia puderam se sentir um pouquinho mais gente com o tapinha nas costas, com uma palavra amiga de esperança, ou simplesmente por se acharem mais espertos, ao receberem meia dúzia de sacos de cimento, um par de botinas, um botijão de gás, um milheiro de tijolos, o rato transmutado em homem se elege. E como seu eleitor, vende-se na primeira esquina pela atenção do Chefe do Executivo, que ávido por poder, desmandos, desvios e falcatruas, usa esse verme para garantir imunidade à custa da tunga de uma saúde digna, de uma educação de qualidade e de uma segurança confiável, justamente para aqueles mesmos cidadãos que os elegeram. Ai é que todos nós vamos estar na boca de lobo, quando o caminho deveria seguir rumo ao progresso de uma cidade que seria muito melhor para se viver.
Sinto-me especialmente triste quando essa burra unanimidade se volta para outros caminhos mais perniciosos, que podem colocar em risco nossa democracia, ressuscitada à custa de sangue daqueles que tiveram o grito distorcido num “pau de arara” em tantos porões perdidos em nosso colosso de sonho impávido.
No entanto, a tristeza dá espaço ao nojo, a desilusão e indignação quando essa unanimidade burra, age insanamente para perpetuar a laminagem daquele que está de plantão no poder. A ele tudo pode se o “nobre vereador/deputado/senador” é atendido com as migalhas pessoais como por exemplo: o perdão de uma dívida de imposto (arrepia-me saber que pode acontecer com aqueles que outrora se diziam “homens da leis”), o emprego de um parente, o aluguel de um veículo para prefeitura, fornecimento de gasolina, enfim… venda barata e indignas de um homem de bem que, se assim realmente o fosse, se preocuparia bem mais com o povo, o qual deveria representar.
Povo sofrido, traído, roubado e enganado, mas que ainda é forte e sonha com a felicidade ou com a feliz cidade, com um futuro próspero e próximo, sem vermes e lobo a roer-lhes as crenças em um destino mais digno, honrado, menos vil e menos vergonhoso, que tenha nos seus representantes mais próximos, cidadão críticos, independentes e probos e não apenas que tenham seus nomes ligados a adjetivos qualificados como de má gestores ou de malfeitores, mas que de forma altiva e independente, confrontem o estigma da unanimidade burra. Ou pior, burra, vendida e corrupta. Sílvio Carneiro Elias, advogado OAB/GO 12.287. Ipamerí – Goiás.