Estrela
anã branca leva 29,6 segundos para dar volta ao redor de si.
Uma equipe de pesquisadores liderados por um brasileiro descobriu uma
estrela do tipo anã branca que precisa de apenas 29,6 segundos para completar
um giro ao redor de si, o que a Terra demora 24 horas para fazer. Até então, o
período de rotação mais curto já identificado entre estrelas do tipo era de 33
segundos.
A estrela tem uma massa similar a do Sol e volume equivalente ao da
Terra, o que faz dela uma estrela “extremamente densa”. Ela tem, como vizinha,
uma outra estrela, de massa ligeiramente maior, da qual captura matéria. Juntas,
formam o sistema binário CTCVJ2056-3014, movendo-se uma ao redor da outra, em
formato e distância similares ao da Lua em relação à Terra.
Para se ter uma ideia do quão rápido é o giro dessa estrela, basta
compará-lo ao do nosso planeta, que em sua região central (linha do Equador)
move-se a uma velocidade de 1.670 quilômetros por hora (km/h). “Essa estrela
gira a uma velocidade próxima a 5 milhões km/h”, disse à Agência Brasil,
o professor do Departamento de Física da Universidade Federal de Sergipe (UFS)
e do Observatório Nacional (ON), Raimundo Lopes de Oliveira, líder da pesquisa
que foi publicada este mês na revista The Astrophysical Journal Letters.
Além de Lopes de Oliveira, participaram do estudo Albert Bruch, do
Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA); Claudia Vilega Rodrigues, do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE); Alexandre Soares de Oliveira,
da Universidade do Vale do Paraíba (Univap); e Koji Mukai, da Nasa (a agência
espacial norte-americana) e da Universidade de Maryland Baltimore County, nos
Estados Unidos.
“Enquanto a Terra dá um giro completo em 24
horas, que é o que chamamos de dia, essa estrela dá quase 3000 giros”, explica
o físico da UFS e do ON. Segundo ele, poucas estrelas do tipo anã branca já
identificadas têm um período de rotação inferior a 100 segundos. “Geralmente a
rotação dura de minutos a horas quando em sistemas binários. No caso de
estrelas isoladas, costuma levar dias para completar a volta ao redor do
próprio eixo”, acrescenta.
Além do giro em alta velocidade, a estrela anã branca possui outras
peculiaridades. Seu campo magnético é mais baixo do que estrelas em sistemas
similares, ainda que seja 1 milhão de vezes maior do que o campo magnético da
Terra. É também interessante o fato de ter luminosidade em raio-x mais
baixa do que o normal para esse tipo de sistema.
“Essa descoberta nos permite estudar a Física em seu extremo porque esse
sistema nos possibilita ter um laboratório de estudo sob condições
que não temos aqui em nosso planeta”, explica Lopes de Oliveira referindo-se às
pesquisas que virão a partir do estudo sobre a interação de matéria com campo
magnético em grande velocidade.
Segundo ele, tais estudos poderão avançar os conhecimentos humanos em áreas
básicas como interação de partículas com carga e campos magnéticos, além de
processos que envolvem fusão nuclear. “Poderemos ver como a matéria reage em
determinadas situações, e o que é produzido a partir de determinadas
circunstâncias”, explica o físico. “Além disso, ao estudar uma estrela anã branca,
estamos estudando o futuro do nosso Sol. Estudando o fim, podemos entender
melhor a evolução como um todo”, complementa.
Apesar de estar localizada a apenas 850 anos luz de nosso sistema solar –
distância considerada pequena nas escalas astronômicas – nenhum telescópio
atual consegue ver as duas estrelas deste sistema separadas, apenas o brilho
combinado de ambas. A descoberta só foi possível por meio de observações em
raio-x, feitas com a ajuda do telescópio espacial XMM-Newton, da Agência
Espacial Europeia (ESA), complementado por observações feitas a partir do
telescópio Zeiss do Observatório do Pico dos Dias(OPD), localizado em Minas
Gerais e gerenciado pelo Laboratório Nacional de Astrofísica.
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Edição: Liliane Farias
Publicado em 16/08/2020 – 07:30 Por Pedro
Peduzzi – Repórter da Agência Brasil – Brasília