Além do
excesso de peso, a forma de carregá-lo pode ser prejudicial.
O excesso de peso nas mochilas escolares e o esforço repetitivo na infância
e adolescência ocasionam 70% dos problemas de coluna na fase adulta, de acordo
com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo o ortopedista e cirurgião de
coluna Luiz Cláudio Lacerda Rodrigues, membro da Sociedade Brasileira de
Ortopedia e Traumatologia (SBOT), o grande problema não é só o peso do
material, mas a forma como as crianças carregam as mochilas.
Em entrevista à Agência Brasil nesta terça-feira (14), o
ortopedista explicou que não existe um peso ideal. “Esse peso é sempre
calculado em relação ao peso da criança. O que se recomenda é que o peso máximo
para cada criança seja 10% do peso corporal. Não ultrapasse esse peso”. Isso
significa que, para uma criança que pesa 30 quilos (kg), por exemplo, o
ideal é que ela carregue, no máximo, uma mochila com 3 kg.
O especialista citou também que a mochila tem que ficar sempre muito justa
nas costas. “As crianças têm tendência a usar mochila muito baixa e solta. Além
de ela ficar puxando a criança para trás, ela fica como se estivesse batendo
nas costas da criança o tempo inteiro”, comentou. A orientação é que a mochila
seja usada o mais alto possível e sempre bem justa nas costas.
De acordo com o ortopedista, ao carregar as mochilas de forma errada, as
crianças e os jovens são candidatos a sofrer de problemas na coluna depois de
adultos. Durante essa fase, as crianças ainda estão em desenvolvimento, e a
coluna é muito frágil. “Os ossos ainda não estão com a consistência totalmente
dura, os discos estão em fase de amadurecimento. Então, qualquer trauma ou
esforço excessivo nessa idade é lesivo para a coluna, diferente da fase adulta,
que já tem uma coluna estruturada.”
Vilões da coluna
Segundo Luiz Cláudio Lacerda Rodrigues, os grandes vilões da coluna das
crianças são o uso errado da mochila, tanto em excesso de peso como na forma de
utilização, e o uso de aparelhos eletrônicos. “São as duas coisas que hoje
estão prejudicando muito a coluna das crianças. E a gente não consegue saber o
quão grave isso vai ser no futuro”. O que se sabe é que a incidência de dor nas
costas de crianças está se assemelhando à da dor nas costas dos
adultos, explicou o ortopedista. Ou seja, em seis a sete crianças em cada dez,
essas dores têm uma chance de cronificação por falta de orientação e pela falta
de cuidados com a coluna em termos de peso.
Em relação aos produtos eletrônicos, como celulares, tablets e
laptops, o ortopedista Luiz Cláudio Lacerda Rodrigues informou que já há
até um nome para a doença que afeta o pescoço. É “pescoço de texto”. O médico
ressaltou que, quando se fala da coluna, ela trabalha como órgão único.
Isso quer dizer que quando a pessoa prejudica sua cervical, ela acaba
afetando também outras partes da coluna. “A lombar e a toráxica vão junto. A
primeira a apresentar problema é a cervical, mas, como ela muda de posição, a
coluna inteira tem que mudar”. Aí surgem os grandes problemas, como
envelhecimento precoce da coluna e uma incidência maior de dor e de hérnias.
Sugestões
Para ajudar pais, responsáveis e as próprias crianças e jovens na missão de
organizar a mochila no dia a dia, a psicopedagoga Adriana Ferreira sugere
algumas providências que favorecem a saúde dos estudantes. Entre elas, a dica
de organizar a mochila de forma a distribuir o peso. “Os materiais mais pesados
precisam estar mais próximos ao corpo e, havendo bolsos laterais, distribua
uniformemente os objetos para equilibrar o peso.”
Outra recomendação é que as crianças separem os itens necessários para a
aula do dia seguinte na véspera. “Os jovens têm tendência a arrumar a mochila
para a semana com medo de esquecer algo. Isso é um erro terrível, uma vez que
aumenta em demasia o peso a ser carregado”. Além disso, muitas mochilas
são produzidas com material que já é pesado ou tem tantos acessórios que
comprometem esse aspecto. “Mochilas menores também podem ser uma boa
alternativa para que os alunos não precisem carregar material supérfluo.”
Adriana Ferreira alertou ainda que as capas duras tornam o caderno um dos
vilões do peso na mochila. “É sempre recomendável a compra de cadernos
individuais mais finos. É também preferível substituir os cadernos no meio do
ano, evitando que o aluno sofra com as dores provocadas pelo excesso de peso”,
indicou. Outra sugestão é que os pais ensinem a criança a ser organizada, mas
não devem fazer o trabalho de arrumar a mochila pelos filhos. “Esse é um dos
piores erros cometidos por pais e responsáveis. Fazer por eles não vai
ensiná-los e, sim, acomodará os estudantes que, com o passar do tempo, terão
ainda mais responsabilidade e peso para carregar”, concluiu.
Publicado Por Alana Gandra –
Repórter da Agência Brasil Rio de Janeiro