Equipe de
pesquisadores concluiu trabalho em três meses.
O CT Vacinas, núcleo formado por pesquisadores da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), desenvolveu um teste
para diagnosticar a covid-19, que diminui as chances de o resultado ser de
falso negativo ou falso positivo. Trata-se de um teste Elisa, nome que deriva
da abreviação de “ensaio de imunoabsorção enzimática” (em inglês, enzyme-linked
immunosorbent assay), em referência à técnica usada. Pelo mundo, o método
consolidou-se, há anos, como ferramenta de detecção do HIV.
Além de rápido, o teste concebido pelo CT Vacinas tem a vantagem de ser mais
barato que outra opção existente, o RT-PCR (do inglês reverse-transcriptase
polymerase chain reaction), cujo custo varia de R$ 280 a R$ 470 na capital
paulista, conforme apurou a Agência Brasil, após contatar três
redes de laboratórios.
Como os testes rápidos, o Elisa também é sorológico (feito a partir da
procura por anticorpos no sangue), com a diferença de que pode ser realizado
somente em laboratórios, ainda que o equipamento necessário seja
relativamente simples. Após as validações iniciais, a próxima etapa é obter a
certificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“No caso do Elisa, de metodologia completamente diferente [em relação
aos testes rápidos], tira-se uma amostra de sangue maior, precisa-se de 1
mililitro, pelo menos. Então, é necessária uma agulha para coletar o
sangue. O processo de detecção da presença do anticorpo é muito mais
sensível”, diz a coordenadora do CT Vacinas, Santuza Ribeiro.
“Por isso, mesmo que a pessoa tenha baixas quantidades de anticorpo,
não se detecta naquele teste rápido, mas pode-se detectar no Elisa. Não se
consegue fazer o Elisa em um balcão de farmácia, por exemplo. Por outro lado,
há uma sensibilidade muito maior. Outra vantagem é que, com o Elisa,
consegue-se uma redução não só de falso negativo, mas de falso positivo, que é
quando se tem uma reação que parece positiva, e, na verdade, é um anticorpo
contra outro vírus, que não o Sars-CoV-2, como o de gripe comum”, explica
Suzana.
Com o Elisa desenvolvido pelos pequisadores do CT Vacinas, consegue-se
mostrar que, em pessoas que têm anticorpos contra outras viroses, como dengue,
não se detecta positivo. “O teste rápido não é capaz de diferenciar as
outras infecções”, acrescenta.
Na prática, o que se faz é fixar o antígeno em uma placa de poliestireno e
ligá-lo a um anticorpo com marcador enzimático. Caso haja reação de defesa do
organismo contra o agente patogênico – no caso, o novo coronavírus –, na forma
de anticorpos, o material depositado sobre a placa muda de cor.
Em virtude da estrutura exigida para aplicação do teste, a equipe agora
busca o apoio de órgãos federais, como o Ministério da Ciência, Tecnologia,
Inovações e Comunicações e outros entes públicos e também de empresas, para
possibilitar a produção em larga escala e a disponibilização a uma parcela
significativa da população. Duas pontes que estão sendo negociadas envolvem a
Fundação Ezequiel Dias (Funed), do governo de Minas Gerais, e o Instituto de
Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), da Fiocruz.
Santuza destaca, ainda, que o teste Elisa para covid-19 surgiu do
aprimoramento de um saber que já circulava no núcleo, sinalizando para a
importância do investimento estável em ciência. “No CT Vacinas, a gente já
havia desenvolvido um teste muito semelhante, para outras doenças, inclusive
não virais, para leishmaniose, doença de Chagas e malária. A mudança que foi
feita consistiu em colocar como componente do teste uma molécula capaz de
detectar o anticorpo contra o covid-19.”
“Testamos três opções e encontramos o antígeno N, componente da
partícula viral, como a melhor molécula para detectar o anticorpo contra
covid-19. Isso foi uma demanda específica que tivemos da Secretaria de Estado
de Saúde de Minas Gerais, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de Minas Gerais (Fapemig), com financiamento da fundação, inicialmente, e
depois recebemos recursos do governo federal, por meio da Rede Virus, do
Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. De acordo com a
coordenadora do CT Vacinas, trata-se de uma molécula distinta da que está sendo
usada no desenvolvimento de vacinas.
A proposta foi apresentada pela Fapemig no início de março, diz Santuza, ao
destacar o sucesso da equipe, que completoo o desafio em três meses: “A
gente ficou muito feliz, porque não sabia se teria capacidade de realizar em um
tempo tão curto.”
Edição: Nádia Franco
Publicado em 04/06/2020 – 14:45 Por Letycia
Bond – Repórter da Agência Brasil – São Paulo