Da eleição de 1958, lembro de tio Ivan Ferreira, eu com onze anos, ouvindo pelo rádio, em casa, a apuração dos votos, quando apontaram o resultado favorável para Taciano Gomes de Melo, tio Ivan exclamou, que bom! Minha mãe, na lida doméstica, o indagou, você torce por ele? Já que este e meu pai, não revelavam seus votos, sim… Abadia, ele nos ajuda nas obras do Ginásio Coração de Jesus e precisamos desse apoio.

Certamente eram amigos assim como meu pai o era. Pedro Ferreira, quando chegou a Pires do Rio recém formado em direito, mas tendo trabalhado na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, na cidade de Goiás com o então futuro ministro Alfredo Nasser foi logo convidado por Dr. Taciano para ser secretário da prefeitura municipal.

Outros laços ainda os ligavam a Dr. Taciano, Maria Luíza era filha de José Xavier de Almeida, também da cidade de Goiás, como eles, e que tinha sido presidente da Província de Goiás de 1900 a 1905. Culta, refinada, preocupada com a educação dos filhos tinha uma aproximação maior com ambos. Era comum ouvi-los comentar sobre a dedicação desta aos filhos e a sua inteligência excepcional.

Taciano foi sem dúvida o maior e o mais carismático líder político de Pires do Rio, reinava absoluto, já chegou à cidade com respeitabilidade. Sua carreira nasceu alí. Era o dono da chuva e do sol. Contou-me a história oral, esta dita por meu pai e tios da família Rincon, e seus mandatos relacionados abaixo assim o confirmam.

Firme, inteligente, sensato e hábil nas resoluções, conseguia facilmente o consenso de todos. Entre seus aliados maiores, figuras expressivas e honradas como o médico Edson Monteiro de Godoy, que viria ser também um líder político além do munícipio, Celso Inocêncio de Oliveira, Aristeu Ferreira, Jaime Guiotti, José Gonçalves de Araújo, Benedito Gonçalves de Araújo, Antônio Gonçalves de Araújo, Clóvis Gonçalves Veiga, Pacifico Inocêncio de Oliveira, Mário Arruda, dentre outros.

João Rincon que tinha sua liderança política, embora em menor dimensão, por ter sido prefeito de Pires do Rio, também integrava seu grupo de amigos e seguidores no mesmo partido. Eis que na eleição municipal de 1944 João Rincon, propôs como candidato a prefeito, o nome de seu filho Joviano, Dr. Taciano naturalmente com o apoio do partido, escolhe outro, João Rincon, rompeu e foi para o pequeno quadro da oposição e o fortalece com a sua chegada. Estava aí criada a oposição que acabou por eleger mais tarde, com Dr. Taciano ainda na liderança política de Pires Rio, Gaudêncio Rincon Segóvia e Goiaz Cavalcante, cada um em dois mandatos alternados e consecutivos.

João Rincon, mesmo rompido, nos relatou também a história oral, nutria admiração por Dr. Taciano e desgosto por ter sido a sua proposta preterida. Na morte de João Rincon em 1949, Dr. Taciano, foi um dos que carregaram sua urna funerária para logo em seguida homenagear-lhe como nome de rua Cel. João Rincon.

Dr. Taciano, o plantador da “Praça do Jardim” hoje, Praça Gaudêncio Rincon Segóvia:
“Todo Jardim começa com um sonho de amor. Antes de que qualquer árvore seja plantada ou qualquer lago seja construído, é preciso que as árvores e os lagos tenham nascido dentro da alma. Quem não tem Jardins por dentro, não planta jardins por fora
e nem passeia por eles… ” Rubens Alves…


E Taciano se curvava diante das plantas, de suas viagens sempre trazia sementes, nos contava Dr. Pedro, plantou árvores, palmeiras e flores, batatas de lírios, de diferentes lugares. Era seu jardineiro zeloso e apaixonado. Diferente de outras praças dos jardins, a de Pires do Rio, o coreto não reinava, na verdade era uma construção rústica, feia. A beleza era natureza onde nós crianças brincávamos de esfregar o coquinho da palmeira carioca, até então não introduzida em Goiás, que causava coceiras em quem era tocado. E como no poema, o jardim tinha dois tanques em forma arredondada, um margeando a parte direita da praça e outro na parte esquerda.

Conheci os cágados que neles se arrastavam. Não cheguei a ver os peixes. No abandono a água se tornou verde e com muito lodo. Rodeada por ficus, rigorosamente bem cortados, a praça tinha calçada larga e nela o vaivém dos namoros de todas as noites, as mulheres numa direção e os homens noutra, de forma que um pudesse ver o outro em cada volta. Se o fícus a embelezava, foram também a razão da morte da praça.

A praga dos “lacerdinhas”, “… o nome popular “lacerdinha” foi dado a uma espécie de tripes chamada Gynaikothrips ficorum. Ela induz galhas em folhas de ficus microcarpa, sendo considerada uma praga em grandes infestações. No Rio de Janeiro ocorreu uma explosão de lacerdinhas nos anos de 1960-70, e as árvores de Ficus ficaram tomadas destes insetos. Sem avisar, os tripes invadiam os olhos dos pedestres, causando profunda irritação. Foi a partir daí que surgiu o apelido de lacerdinha para este inseto, uma sátira a um político da época, Carlos Lacerda. “E com Pires do Rio o inseto carioca, não foi diferente, pedestres e ciclistas desviavam da praça no horário diurno para não sofrerem o seu ataque. Resultado: o prefeito da época as cortou e deu início a sua reformatação.

Dr. Taciano, o médico:
O médico querido e respeitado por todos, deixou na memória coletiva a reputação de competência. Se era estudioso na área não posso afirmar, porém inteligente acertava nos diagnósticos dos que o procuravam. Quantas vezes ouvimos elogios as suas prescrições.


Dr Taciano o ocaso político:
Nos tempos de Pires do Rio, me recordo de ter visto Dr. Taciano uma ou duas vezes, no escritório de meu pai. Mais tarde já em Brasília, nos meus dezoito anos, tive de ir a sua residência levar um documento a pedido de meu pai e demandado por este. Percebi que era extremamente senhor de si mesmo, digo eu hoje. Tinha a postura de estadista de dono da festa. De estatura baixa me deu a sensação de estar à frente de um homem poderoso. Creio que cheguei a tremer. Pires do Rio o endeusava. Desses que poderiam me arrumar um emprego melhor, pensava eu na ocasião. Fortemente recomendado por meu pai, me limitei a entregar o documento. Foi elogioso e afetivo ao se referir a meu pai, mas nada perguntou sobre mim… risos …


Em pleno cumprimento de seu mandato de Senador, deve ter sido abordado por Juscelino Kubitschek, se aceitaria renunciar ao cargo para que ele, Juscelino, de seu partido político, pudesse concorrer a senador por Goiás. Aceitou. Foram lhe repassados como recompensa um cartório em Brasília e o cargo vitalício de Ministro de Tribunal de Contas do Distrito Federal, onde foi aposentado, mais tarde pelo A.I. 5, pelos militares, justamente por ter sido beneficiado dessa benesse do Governo.


A oposição e mesmo seus correligionários em Pires do Rio se ressentiram por este nada ter solicitado para Pires do Rio. Logo em seguida vendeu suas propriedades na cidade a Gaudêncio Rincon e se afastou da cidade e da vida política.


Continuou, no entanto ele e Dona Maria Luiza, serem periodicamente visitado por piresinos residentes em Brasília e cada vez menos de Pires do Rio. Seguiram ofertando sua amizade os “brazilienses de Pires” com os quais sempre tive ligações estreita, Maurílio Ferreira, sobrinho do senhor Aristeu Ferreira, casado com Ivânia (neta de João Rincon), Antônia Gonçalves de Araújo, Maria Catarina de Freitas, viúva Natal Gonçalves de Araújo (Cati) e outros.


Faleceu em 1986 sem nenhum protagonismo maior este homem de uma linda trajetória política e sem nenhuma homenagem da sua Pires do Rio que tão bem o acolheu e foi tão amada por ele. Os sinos do relógio da Igreja Matriz, ainda devem no seu badalar lembrar a alguns de sua pessoa, pois este foi uma doação do mesmo a paróquia, que tantas vezes o abençoou e que assim siga até a eternidade. Um homem bom que se deixou levar pelas benesses do poder e da ambição. Segue seu perfil político registrado na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás:

Perfil biográfico de Taciano Gomes de Melo – PSD. Estudos: Faculdade de Medicina, 1930. Profissão: Médico/ Fazendeiro. Nascimento: 12 de janeiro de 1904, Capela, Alagoas. Residência: Pires do Rio, Goiás. Filiação: Antônio Gomes de Araújo Mello e Cândida Gomes de Mello. Cônjuge: Maria Luíza Xavier de Almeida e Mello. Filhos: Taciano Jr. Antônio e Alberto Xavier. Vida Política e Parlamentar: Prefeito de Pires do Rio, eleito em 1936. Constituinte Estadual, 1935; Deputado Estadual (PSR), Legislatura 1935-1937; Vice – Governador ( 1935-1937). Prefeito de Pires do Rio (1937-1945) Constituinte Estadual, 1947; Presidente da Assembleia Legislativa durante a Constituinte 22 de março a 20 de julho de 1947; Deputado Estadual (PSD), 1ªLegislatura (1947-1951), Prefeito de Pires do Rio, 1951-1954. Deputado Federal (PSD), ( 1955-1959), Senador (PSD), (1959-1960); renuncia em 1961 num acordo do PSD para eleição de Juscelino Kubistechek. Outras Informações: Inspetor Sanitário, Santa Cruz. Ministro do Tribunal de Contas, Distrito Federal (1960-1969) – aposentado em 30 de abril de 1969 pelo AI-5. Filiado ao Partido Social Republicano, 1934/37; Filiado ao Partido Social Democrático, 1945. Irmão: Sílvio Gomes de Mello. Falecimento: 4 de julho de 1986. “Um vulto entre vultos …

Texto: José Rincon Ferreira

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