domingo, novembro 24, 2024

O Último Drible de Waltinho Japonês

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Depois de escrever um comentário sobre a nova configuração do Campeonato Brasileiro de Futebol com o reconhecimento dos dez títulos da Taça Brasil (59 a 68) e dos 4 títulos da Taça de Prata (67 a 70) e da confusão que causa até hoje a Copa União de 1987, recebi a notícia do falecimento de Walter Santos Filho.

Deixei tudo de lado e corri para o velório onde vi pela última vez o semblante suave, meigo, tranquilo, quase angelical deste que foi um dos grandes jogadores que vi atuar nos meus 45 anos de locutor esportivo!

Ao lado da esposa, dos filhos, dos irmãos Serginho e Roberto, parentes, amigos … ouvimos as bonitas palavras do Frei Sebastião Queiróz e, na paz celestial que ali reinava naquele momento, veio à memória o ano de 64 em uma das salas de aula do Colégio Estadual Profº Ivan Ferreira, quando conheci o extrovertido aluno, dono de uma belíssima caligrafia elogiada até pelo saudoso, porém, intransigente professor Pedro Ferreira de Azevedo.
Mas Walter era formidável também em outra matéria: o futebol! Clássico, elegante, cabeça erguida, fazia lançamentos de 40 jardas com precisão absoluta.

Em 1965 no quadrilátero verde do Estádio Edson Monteiro de Godoy, ao lado de craques consagrados como Hélio, Daniel, Alemão, Batista, Tonico, Lupércio, Vilson, Zé do Urbano, Heráclito, Cabo Orlando, Aprígio, Laerte, Zinho, Batatinha, Quinzote, Aroldo, Issinha, Clodoaldo, Vanderley, Bidu e Doutor Edinho, o técnico Eli Daher, popular Caixão, dava oportunidade aos novos talentos do nosso futebol como Paulo Roberto, Bentinho, Lila, Valdir Vieira, Roberto Santos, Carlinhos Dadim, Ivo, Mario, Boiadeiro, e entre eles um garoto de apenas 15 anos que a torcida passou a identificar como Waltinho Japonês.

O que Ronaldinho Gaúcho faz hoje – olhar para a direita e tocar para a esquerda, Waltinho fazia há 40 anos e com um detalhe: nunca deu um ponta pé no adversário, nem corria atrás da bola que, teimosamente, procurava ficar ao seu lado. Era um pacto de amor recíproco: Waltinho gostava do balão de couro, o balão de couro gostava de Waltinho! Seu nome está gravado dos anais do Campeonato Goiano de Futebol Profissional onde defendeu por muito tempo o Novo Horizonte de Ipameri!

A vida seguiu o seu destino no relógio implacável do tempo e no último dia 3 de março, o coração de Walter Santos Filho, aos 62 anos, resolveu driblar todos nós e decidiu parar num lance absolutamente inesperado. Do outro lado da cidade a bola chorou silenciosamente e as folhas dos eucaliptos do Estádio Durval Ferreira Franco, pararam de tremular por alguns instantes quando Ipameri soube da morte do grande jogador.

Enquanto parentes e amigos lamentavam sua passagem para o Plano Superior, colegas de futebol como Zé do Urbano, Vilson, Issinha, Quinzote, Batatinha, Bebé, Deca, Cota, Carlinhos Dadim, Gleyson e Boiadeiro estavam no Estádio da Eternidade esperando por ele de braços abertos e os comentaristas Edmundo de Almeida, Gilberto Gomes da Silva, Agostinho de Castro e Seme Kofes anunciavam “Atenção Amigos: Está se preparando para entrar no gramado Waltinho Japonês com toda a classe e categoria que Deus lhe deu lá na terra e que agora quer vê-lo atuar aqui bem de pertinho”. Hugo Sérgio de Lima, Radialista.

Washington Luiz
Advogado e editor do Jornal Positivo

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