ARQUIVO / JORNAL POSITIVO

O historiador piresino, Paulo Sampaio, relatou a origem da celebração marcada por muita fé, dedicação, trabalhos religiosos e educacionais

Paulo Sampaio, historiador piresino, falou sobre a origem da celebração do Jubileu e a forma pela qual a Paróquia Sagrado Coração de Jesus de Pires do Rio, proclamou, em 2018, o “Ano da Graça” de comemoração dos 75 anos da presença Franciscana em terras goianas.

Os preceitos Bíblicos apontam que após Deus libertar o povo de Israel, do Egito, sob a liderança de Moisés, foram definidas outras normas que passariam ser seguidas. Assim são estabelecidos os dez mandamentos e dentre eles, um orienta a guardar o 7º dia como forma de reconhecimento pela ação do Criador sobre a terra. Posteriormente, Deus decide estabelecer uma nova data que deveria ser guardada pelo povo “O ano do Jubileu”.

Jubileu, palavra que vem do hebraico “yovel” e seu maior símbolo era o Shofar um instrumento confeccionado com o chifre do carneiro que foi usado para anunciar o ano festivo e tocado em todo Israel para proclamar o início da festividade quando dele se extraía uma nota musical longa e aguda.

Quando shofar era tocado, seu som podia ser ouvido em todo Israel, era uma forma de anúncio ao povo que chegou a hora de libertar os cativos judeus. Todos que possuíssem escravos deveriam libertá-los e enviá-los para sua casa. Uma lei Divina orientava que seis anos seriam usados para o plantio, mas o sétimo ano seria o descanso da terra, enquanto o Ano do Jubileu seria guardado a cada 50 anos.

Neste ano o perdão atingia a todos e eram instituídas normas que regularizassem a negociação das propriedades. As dívidas eram perdoadas, as propriedades que foram retiradas dos donos ou roubadas eram devolvidas e os escravos libertos. Todas as transições que envolviam a terra eram praticadas dentro da lei do Jubileu.

Era um ano de esperança para todo aquele que havia perdido algo, um ciclo que se fechava e outro que iniciava na vida das pessoas. O ano do Jubileu era o ano de proclamar a liberdade na terra a todos os seus moradores e era comemorado com regozijo e aceito como o tempo de festa na alegria de Deus e tornou-se o “Ano da Graça do Senhor” proclamado por Jesus Cristo na primeira pregação que ele fez em Nazaré.

No ano de 1343 (D.C.) uma delegação de romanos vai a Vinhão onde se encontrava em exílio o papa Clemente VI a fim de pedir um Jubileu extraordinário no ano de 1350 com uma periodiciosidade mais breve.

Os romanos sentiam-se pressionados pela extensa ausência do Papa e este acontecimento jubilar seria a ocasião oportuna para o regresso dele a sua sede apostólica. E assim aconteceu, Clemente VI concedeu a indulgência plenária para aqueles que fossem aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, porém o pontífice não foi a Roma por motivos políticos.

Em 1450 o papa era Nicolau V (que foi considerado o primeiro papa humanista) e celebrou o jubileu com o maior número de peregrinos da história. Alguns escritores deram nome a este período festivo de “Jubileu dos Santos” por nele estarem presentes Santa Rita de Cássia e Santo Antônio de Frienza. A igreja o identificou como “Jubileu de Ouro” para indicar a restabelecida unidade da Igreja Ocidental depois do Cisma. E em 1475 a peridiciosidade dos jubileus é a de “25 anos” e ali entrou a denominação de “Ano Santo” que chegou até nossos dias.

Neste aspecto, a Província do Santíssimo Nome de Jesus no Brasil, celebra em algumas paróquias “O Jubileu de 75 anos da presença franciscana em terras goianas” e dentre estas se encontra a de Pires do Rio.

A cidade, que surgiu em 1922 no advento da ferrovia, teve em seus primórdios religiosos na tentativa da construção de uma capela dedicada à Nossa Senhora D’Abadia no espaço onde hoje se encontra a praça Gaudêncio Rincon Segóvia em terrenos doados por Lino Sampaio e esposa quando os alicerces e as paredes chegaram a ser elevados porém não suportando as chuvas vieram a declínio.

Os doadores ofertaram outro terreno mais a oeste onde futuramente poderia abrigar o convento e ali foi edificada a capela e foi o Reverendo vigário de Santa Cruz de Goiás, Padre Julião Calzada quem a benzera para acolher imagens, além da já entronizada Nossa Senhora D’Abadia.

Ali em volta eram realizadas quermesses organizadas por algumas senhoras da sociedade como: Juracy Amorim, Maria Natividade Felix de Souza, Amélia Cavalcanti e outras. A renda adquirida foi revertida na compra de dois sinos que vieram da cidade de Hamburgo na Alemanha e solenemente batizados com os nomes de: Gabriel e Rafael, estes que ainda hoje anunciam as cerimônias da paróquia.

Em 1940 chega em Pires do Rio Padre Ângelo Garcia Cordovilla e, após algum tempo, solicitou da Arquidiocese uma planta que foi efetivada em tempo recorde e em 1942 a capela foi demolida e iniciou a construção de uma nova Igreja que, perderia a nomenclatura de capela passando a receber o título de Matriz Sagrado Coração de Jesus.

Nesse período inicia uma série de problemas. Esta igreja erguida em tempo extraordinário, apresentou problemas na estrutura provocando grandes rachaduras e, na mesma ocasião falece repentinamente Padre Ângelo que já tinha em mãos sua transferência pois, Dom Emmanuel Gomes de Oliveira, que era arcebispo em Goiás, havia solicitado da Província Franciscana do Santíssimo Nome de Jesus em Nova York a fundação de uma Ordem no Estado de Goiás oferecendo-lhes possibilidades amplas tanto no campo religioso quanto no educativo.

Assim, em 1943 um grupo de missionários franciscanos partiu dos Estados Unidos para o Brasil sendo eles: Freis João Francisco Granahan, Paulo Seibert, Felipe Kennedy, Dunstan Carroll, Bernardo Trainor, Cristovão Neyland, Jaime Shuck, Conall O’Leary, André Quinn, João Vianney Krieg, Gabriel Hughes, Celso Gansen, Anselmo Donhue e Damião Carney e se instalaram em Anápolis .

Em 02 de Fevereiro de 1944 chegaram a Pires do Rio Frei Cristovão e Frei Bernardo que adoentados se hospedaram em uma pensão e logo após alguns dias seguiram viagem para Catalão. E finalmente assumiram os trabalhos pastorais piresinos Frei Dunstan, Frei Alexandre e Frei Cristovão.

A primeira ação foi examinar o templo que ainda estava em fase de construção, então optaram por contar com o auxílio de um técnico e no dia 02 de abril iniciaram sua demolição e em 08 de junho iniciaram a construção do atual templo. O povo piresino encantado com o novo estilo de evangelização, passou a angariar fundos com o propósito de revertê-los na obra de construção da Matriz.

Foram esses Franciscanos que celebraram pela primeira vez em Pires do Rio os Ritos da Semana Santa e, seus sucessores implantaram a Ordem Terceira Secular e determinaram a construção da estrutura física do Colégio Sagrado Coração de Jesus entregue às Irmãs Franciscanas de Allegany em 1948.

Franciscanos que acolhiam missões que por aqui chegavam, construíam capelas nos bairros e nas comunidades rurais, incentivava a criação de pastorais e outros movimentos da Igreja quando as celebrações já eram providas do som de um melodioso harmônio tocado por dona Regina Damasceno. Estes missionários também acomodaram a chegada das Irmãs Franciscanas dos Pobres em 1961 chefiadas por Irmã Maria Elizabeth.

No ano de 1968 apoiaram a iniciativa do manifesto em honra a Nossa Senhora do Rosário e em 1970 a Renovação Carismática teve nesta cidade o seu despertar através de Irmã Assumpta Cunha, Franciscana de Allegany que todos os dias às 13 horas fazia uma oração intercessória na Matriz frente ao Santíssimo.

No ano de 2018 uma série de eventos marcaram as festividades Jubilares de 08 a 14 de Abril na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus em Pires do Rio iniciando com o anúncio do Jubileu ao som do Shofar propagado na torre da Matriz acompanhado do badalar de sinos.

Missas Solenes, Exposições de fotografias, Cantata, Sessão do Poder Legislativo homenageando os franciscanos, lançamento da pedra fundamental da Capela que foi dedicada a Nossa Senhora D’Abadia e instalação do Brasão da Ordem na parte frontal da Matriz, foram algumas referências que concluíram este período festivo.

Para o ex-pároco Frei Ronaldo Alves da Silva, celebrar este Jubileu foi gratificante tanto no aspecto da fé quanto no aspecto cultural pois, o ano marca um período de Graça e Perdão e ao mesmo tempo leva a comunidade a recordar ou conhecer melhor uma história feita por seus genitores e pelos missionários franciscanos. Ele encerrou suas palavras dizendo “Foram muitos seguidores desta Ordem que por aqui passaram e que já concluíram sua obra terrena e outros vivos exercem missões em terras distantes ou próximas e constroem uma história que provavelmente será contada no ano de 2043 quando celebrará o “Ano da Graça” no Jubileu de cem anos da presença Franciscana em Goiás.

O atual Pároco, Frei Paulo Henrique Neves de Brito, assumiu a direção da Paróquia em janeiro e tem dado continuidade aos feitos de seu antecessor. Texto: Paulo Sampaio.

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