Hoje
diagnóstico é feito com base na análise clínica do psiquiatra.
Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveu um exame de sangue
capaz de diagnosticar a esquizofrenia e o transtorno bipolar, duas doenças
psiquiátricas com sintomas semelhantes. O exame diferencia os dois
transtornos por meio da análise de alterações bioquímicas e moleculares
envolvidas em cada uma das doenças. O estudo foi apoiado
pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
O diagnóstico dessas duas patologias atualmente é feito com base na análise
clínica, o que é considerado um processo subjetivo porque depende da avaliação
do psiquiatra e da capacidade do paciente em relatar os sintomas. Por esses
motivos, um diagnóstico desses distúrbios pode levar anos.
“É complicado diferenciar duas enfermidades que compartilham sintomas tão
parecidos por meio de exames clínicos. Com o exame laboratorial é possível
identificar padrões no soro sanguíneo e, assim, diferenciar casos de
esquizofrenia e bipolaridade de modo preciso, o que melhora o prognóstico dos
pacientes”, disse a professora no Departamento de Farmacologia da Escola
Paulista de Medicina (EPM-Unifesp) e coordenadora do estudo, Mirian Hayashi.
Segundo os pesquisadores, o exame analisa o conjunto de substâncias químicas
resultantes de reações do metabolismo (metabólitos) e não apenas um biomarcador
específico como proteínas, genes ou moléculas. Também foram analisados usuários
de crack, já que a substância disfarça o primeiro episódio psicótico de
pacientes esquizofrênicos.
“Se o indivíduo não relata que é usuário de crack, ele pode ser confundido
com um paciente com esquizofrenia em primeiro episódio psicótico. No nosso
estudo, no entanto, talvez por ser um efeito molecular passageiro, não
conseguimos diferenciar usuários da droga de indivíduos saudáveis não
usuários”, afirmou Mirian.
A pesquisadora explicou que o objetivo do estudo foi encontrar padrões
diferentes nos metabólitos e associá-los a um dos transtornos. As amostras de
soro sanguíneo foram colocadas sob efeito de um campo magnético e com a análise
da ressonância magnética foi possível detectar as variações de prótons na
amostra.
“Como toda molécula tem prótons, é possível traçar um perfil de ressonância,
com diferentes composições dentro de um fluido. Ao analisar essas variações de
prótons entre diferentes indivíduos, é possível identificar padrões nas
amostras de pacientes esquizofrênicos que diferem dos padrões em bipolares ou
pessoas saudáveis”.
A pesquisadora destacou que a hipótese mais aceita pela ciência para casos
de esquizofrenia e bipolaridade está associada ao desequilíbrio de dopamina, um
neurotransmissor do cérebro. Os principais medicamentos antipsicóticos
disponíveis hoje no mercado são moduladores de dopamina. Ela lembra que o uso
de drogas ilícitas, como o crack, aumenta a liberação de dopamina o que provoca
o desequilíbrio momentâneo no neurotransmissor.
“Por isso, usuários de crack em crise apresentam sintomas parecidos. Porém,
pessoas com esquizofrenia ou bipolaridade têm também alterações genéticas além
do desbalanço químico no cérebro. Por esse motivo estudamos também usuários de
crack”, disse.
De acordo com o coautor do artigo, João Victor Silva Nani, além de
diferenciar uma condição de outra, o estudo revela novas informações sobre as
duas doenças permitindo estudos futuros e contribuindo para o
desenvolvimento de tratamentos mais eficientes. “Afinal, se existe um padrão de
alteração nos metabólitos, ele decorre de uma via específica para cada doença,
que ainda não conhecemos”, ressaltou.
Edição: Lílian Beraldo
Publicado em 10/08/2020 – 13:30 Por Flávia
Albuquerque – Repórter da Agência Brasil – São Paulo