Estudos
indicam que leite humano não transmite a doença.
Agosto é celebrado nacionalmente como o Mês de Aleitamento Materno desde
2017. O período também é chamado de Agosto Dourado, cor que simboliza o padrão
ouro de qualidade do leite humano, líquido essencial para a vida e o
desenvolvimento do bebê. Mas, em meio à pandemia de covid-19, a preocupação das
mães com a amamentação aumenta. . E uma dúvida surge: mulheres que contraíram a
doença podem amamentar normalmente?
Para a coordenadora da assistência em aleitamento materno do Banco de Leite
Humano (BLH) do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do
Adolescente Fernandes Figueira da Fundação Oswaldo Cruz (IFF/Fiocruz), Maíra
Domingues, que é enfermeira pediátrica, os estudos feitos com amostras de leite
de mães que tiveram covid-19 indicaram que vírus SARS-CoV-2 não é transmitido
pela amamentação.
“As mães podem e devem continuar amamentando, mesmo estando com sintomas
compatíveis com a síndrome gripal ou infecção respiratória, ou mesmo a
confirmação para covid-19, se for seu desejo e se estiver em condições clínicas
adequadas. Mas é importante que elas utilizem a máscara quando forem amamentar
ou realizar algum cuidado com o bebê. E, claro, a higienização das mãos com
bastante frequência, antes e depois da mamada ou cuidado”.
Doação de leite
Mas, segundo Maíra, a doação para o BLH está contraindicada para mulheres
com sintomas compatíveis com síndrome gripal, infecção respiratória ou
confirmação de caso de SARS-Cov-2. Orientação semelhante também se estende para
mulheres contactantes, durante o período da viremia.
“Para a doação do leite humano de mulheres que estão com o vírus – suspeito
ou confirmado – é importante recomendar a contraindicação temporária da doação
pelo período de 14 dias, contados a partir do início dos sintomas. As nossas
normas técnicas oferecem uma segurança e garantia da qualidade em todo o
processo de coleta, armazenamento, pasteurização, então não houve nenhuma
mudança. A única recomendação é que para qualquer doença infectocontagiosa, não
só para o coronavírus, a doação é contraindicada até a melhora do quadro”.
Maíra informa que a pandemia obrigou o instituto a mudar alguns atendimentos
às mães e pais, mas o serviço não foi interrompido.
“Nós suspendemos os grupos educativos oferecidos no pré-natal, que são
grupos para o casal que está esperando o bebê, que eram realizados duas vezes
por semana. Na assistência para a mãe que está com dificuldade para amamentar,
nós estamos realizando teleconsulta, teleorientação. Em casos em que é
necessária a consulta presencial, é feito o agendamento a partir de uma
primeira avaliação na teleconsulta”.
A lista e o contato dos Bancos de Leite Humano em todo o país estão
disponíveis no portal da rede, assim como recomendações básicas e notas
técnicas sobre amamentação e covid-19.
Semana mundial
A primeira semana de agosto é também a Semana Mundial do Aleitamento
Materno. Maíra explica que o tema deste ano é Apoie o aleitamento por um
planeta saudável, de acordo com os Objetivos Sustentáveis do Milênio da
Organização das Nações Unidas.
“O foco é no planeta, porque o leite materno é um alimento renovável,
natural, que não traz custo ambiental. O leite humano é ambientalmente seguro e
não gera impactos ambientais como os substitutos do leite materno, que são as
fórmulas infantis, em decorrência do processo de industrialização”.
E a Semana Mundial do Aleitamento Materno foi encerrada na última
sexta-feira (7), com o primeiro mamaço virtual promovido pela Sociedade
Brasileira de Pediatria (SBP).
Participaram a atriz Gisele Itié e o filho Pedro, de cinco meses, e os
médicos Luciano Borges Santiago, Renato Kfouri e Moises Chencinski, integrantes
dos departamentos científicos de Aleitamento Materno e de Imunizações da SBP.
Os eventos promovidos pelo Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança
e do Adolescente Fernandes Figueira da Fundação Oswaldo Cruz (IFF/Fiocruz) para
o Agosto Dourado também estão sendo virtuais, por causa da pandemia. Serão
transmitidas três palestras, nos dias 18, 19 e 20 de agosto, com o tema “A
importância de apoiar o aleitamento materno nos primeiros 1000 dias de vida
para a construção de um planeta mais saudável”. O público-alvo são os
profissionais residentes do IFF, mas o evento é aberto a todos os interessados.
As inscrições podem ser feitas pelo site www.abre.ai/inscricaosmam.
Rede de apoio
Alheia à pandemia, a vida das mães e bebês continua. Mãe de primeira viagem,
a secretária-executiva Suyane Pereira Scen teve Luiza na última quarta-feira
(5) e já está em casa. Ela explica que leu muito a respeito dos benefícios da
amamentação na internet e fez cursos on-line, além de receber orientações das
enfermeiras do hospital onde fez o parto.
“Para o bebê é questão da saúde. O primeiro colostro é muito rico em
nutrientes, previne um monte de doença. Depois ajuda ela a engordar, o leite
hidrata, engorda. Pelo menos o que eu fiquei sabendo é que nos primeiros seis
meses é crucial para a vida saudável. Para a mãe, ajuda a reter sangramento,
contrair o útero e outras coisas que nem me lembro, não dormi direito”.
Já em casa, em Brasília, Suyane conta com o acompanhamento de uma consultora
para ajudar nos primeiros dias, que são os mais difíceis para a mãe. “Estou
amamentando, mas está bem complicado, está machucando. A consultora ensina a
pega, que o bebê não pode pegar só o bico porque machuca, tem que pegar a
auréola. Questão do primeiro leite, o colostro, e depois como faz para não dar
mastite, não empedrar. Ela vai mostrando como deve ser feita a massagem para
ajudar a produzir leite. Eu não entendo muito e estou aprendendo com ela”.
A comunicadora de Salvador Christiane Sampaio teve o primeiro filho, Cairu,
há 15 anos, e agora está com o bebê Akin, que vai completar um ano dia 27. Ela
conta que teve duas experiências bem diferentes com os dois partos e
amamentação.
“Meu primeiro filho não colocaram no meu seio assim que ele nasceu; só
depois que eu fui para o quarto. Deu super certo e eu o amamentei quase 11
meses. Mas a pediatra me disse que não precisava amamentar mais de 6 meses, só
se eu quisesse mesmo. Eu não tinha uma postura muito ativa mesmo”.
Para ela, atualmente a mulher está muito mais consciente sobre a importância
da amamentação e existe um ativismo muito mais forte no campo da maternidade.
Ela destaca também a importância das redes de apoio que se formaram em
diversos lugares, com mulheres e profissionais que se ajudam e trocam
experiências e informações sobre maternidade, parto e amamentação, tudo feito
de forma individualizada e mais humanizada.
Edição: Nélio de Andrade
Publicado em 09/08/2020 – 13:15 Por Akemi
Nitahara – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro