Dom Guilherme Antônio Werlang

Moro atualmente na última casa de uma rua sem saída. Termina no portão de acesso de um Condomínio. Sempre, durante a noite, encosta o caminhão que recolhe o lixo. Por vezes já fiquei, da janela, olhando esse trabalho vez, mas na semana passada resolvi descer e, na desculpa de pedir se podia descartar umas garrafas plásticas, fui até eles.

A intenção era olhar de perto todo aquele serviço de jogar para cima do caminhão sacos e sacos, caixas e caixas de lixo. Puxei umas poucas palavras de conversa com eles. Eram dois homens e uma mulher, pareceu-me esposa de uma deles. Mesmo com luvas, mas sem máscaras, ela não usava nem luvas e selecionava algumas coisas para colocar à parte, entraram na conversa com respostas curtas, mas sem parar o serviço. Certamente ainda teriam muitos outros pontos de coleta para aquela noite fria e de chuvisqueiro.

Depois de fazer o meu “descarte” das garrafas, já sabendo que o jantar deles seria bem mais tarde, ao final do serviço, voltei para casa a uns 20 metros daí e fui preparar uma boa sacola das melhores maçãs da Serra Catarinense. Eu tinha recebido naquele dia de presente um caixa bem grande.

Voltei ao caminhão do lixo, eles até que olharam, mesmo sem dizer uma palavra, vi que estranharam eu voltar e tendo na mão aquela sacola que parecia meio pesada. Falei: AGORA EU NÃO TROUXE LIXO PARA DESCARTE. QUERO COMPARTILHAR COM VOCÊS UM PRESENTE QUE GANHEI HOJE. SE ACEITAREM, QUERO DIVIDIR COM VOCÊS ESTAS MAÇÃS. ACEITAM?

Aí sim, o trabalho deu uma rápida e pequena “folga”, para (os 3) abrir um sorriso de satisfação e agradecimento. Um deles, aquele a quem entreguei a sacola, disse: “ESSAS VÃO AINDA HOJE PARA O BUCHO”. Ela completou, põem na cabine, nem sei quando foi a ultima vez que comi maçã. Tá muito cara para nós poder comprar.

Dei um boa noite, agradeci o trabalho que faziam por todos nós e voltei para casa. Fui direto para a capelinha que tem aqui em casa onde faço minhas orações diárias, para AGRADECER a Jesus eucarístico, aqueles homens e mulheres, “INVISÍVEIS” para a sociedade, enquanto fazem todos os dias/noites esse trabalho, para que a cidade esteja limpa, para que nossa saúde não seja ameaçada, para que o mau cheiro, o fedor, não invada e tome conta de nosso ambiente, para que as doenças não invadam nossa vida pela decomposição das sobras, lixos e descartes.

Quem os vê? Quem se importa com eles? Quem sabe de sua vida? Quem lhes agradece? Quem poderia pensar em lhes dar DIPLOMAS DE HONRA AO MÉRITO? Quem os colocaria entre as pessoas MAIS IMPORTANTES para uma cidade saudável?

Nós que moramos bem, que temos tantas regalias e privilégios e até recebemos tantos presentes, reconhecimentos, saudações e homenagens, SOMOS DEVEDORES aos INVISÍVEIS SOCIAIS.

Hoje mais uma vez rogo a Deus por todos esses e essas e rogo pela nossa conversão p\ara ver neles e nelas não “lixeiros/lixeiras” MAS IRMÃOS E IRMÃS E GRANDES benfeitores e benfeitoras do nosso bem estar.

Por / Dom Guilherme Antônio Werlang

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