Eu sou filho de agricultores, mas um dos primeiros presentes que meu pai fez para a mãe, logo após o casamento, foi assinar uma revista mensal católica escrita, em alemão, e para ele ainda um jornal, acho que era mensal. Eu e meus irmãos crescemos, vendo o pai e ainda mais, a mãe, LENDO quase todos os dias, especialmente na hora do chimarrão após o almoço e a sesta. A mãe seguiu firme enquanto a visão permitiu.

Estamos nos aproximando rapidamente do início do ano escolar 2020. É hora de fazer os cálculos com os gastos escolares dos filhos. O orçamento sempre fica curto nestas horas. O que serão as prioridades nos investimentos e gastos?

Aí eu lembro da pérola preciosa do grande escritor brasileiro infanto-juvenil, Pedro Bandeira de Luna Filho. Ele é várias vezes premiado por seus escritos voltados para crianças ou jovens. Certa vez ele afirmou:

“UM PAI CHEGA A FAZER SACRIFÍCIOS PRA COMPRAR UM TÊNIS DA GRIFE PRO FILHO E ACHA RUIM GASTAR VINTE REAIS EM UM LIVRO. INFELIZMENTE AINDA TEMOS UMA SOCIEDADE QUE ACHA MAIS IMPORTANTE INVESTIR NO PÉ DO QUE NA CABEÇA DO FILHO”.

Pois é! Eis a grande questão que eu já abordo há muitos anos. Quanto se investe, na família, em bons livros? Compram-se até revistas tipo Playboy, revistas de modas, ou sensacionalistas, gastam-se vários mil reais em celular, tablet, brinquedos eletrônicos, fica-se pendurado no telefone para ligar para o programa da maior prostituição brasileira, o famoso Big brother, para “salvar” ou “tirar” um brother ou uma sister, com as crianças em idade escolar, gasta-se com mochila toda colorida, ou ainda um certo “carrinho” para que a criança não precise fazer força de carregar o peso da mochila – coitadinha, pode sofrer na coluna – mas o que menos se gasta é onde talvez mais deveria se INVESTIR, … EM LIVROS.

Enquanto continuarmos, como diz Pedro Bandeira, em “investir mais nos pés dos filhos, do que na cabeça”, não haverá a mínima chance de competirmos com países do chamado, primeiro mundo.

Os pais conscientes, que antes de tudo, são exemplo de bons leitores diante dos filhos e lhes impõem limites firmes de horário e tempo de uso de celulares e toda a parafernália e lixo eletrônico, e também exigem horários bem definidos para estudo, fazer tarefas escolares e outras leituras, certamente, terão muito mais possibilidade de um futuro bom para os filhos.

Perguntei, aqui em Lages, para duas crianças, creio que têm entre 9 a 11 anos, quantos livros leram nas férias. A resposta parecia até combinada porque saiu na ponta da língua e, juntos disseram: “Ah! Mas nós estamos de férias”. Isto demonstra que não se estuda para se preparar para a vida, mas para cumprir obrigação.

Despertar e criar gosto pela leitura, se adquire, PRATICANDO. Quem fica só com leituras de internet, fica muito limitado, porque são todos textos curtos e pontuais. Raciocínio e pensamento lógico e crítico precisa de muito mais. Precisa de obras de mais fôlego de autores reconhecidos, precisa de trabalhos bem elaborados, com boa bibliografia, fundamentação e argumentação.

Lembro até hoje, quando no antigo curso ginasial, correspondente ao ensino fundamental de 5º ao 9º ano de hoje, nós tínhamos que ler obras de José de Alencar, Machado de Assis e outros famosos e sintetizar tudo em poucas páginas de caderno, valendo nota.

Não se descarta gastar com tênis, mochila, celular, etc. Porém, saber dosar certo os gastos segundo a importância de cada investimento, é o que define os resultados. Quem “investe” no secundário mais que no central, terá resultados conforme seu investimento.

Quem planta milho, nunca colherá laranja. Colheremos dos filhos, conforme nossa semeadura.

Guilherme Antônio Werlang

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