Pacientes que usaram antiviral mostraram recuperação mais rápida.
Os resultados de um ensaio clínico nos Estados Unidos (EUA), divulgados nessa quarta-feira (29), mostram que os pacientes que foram medicados com Remdesivir apresentaram recuperação mais rápida da infecção pelo novo coronavírus. A Administração Federal de Alimentos e Medicamentos estuda editar uma autorização de emergência para o uso desse fármaco.
O ensaio clínico, conduzido pelo Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas, estudou mais de mil pacientes gravemente infectados com o novo coronavírus em 75 hospitais em todo o mundo e concluiu que os doentes que foram tratados com Remdesivir apresentaram recuperação 31% mais rápida do que aqueles que apenas receberam um placebo.
O tempo de recuperação com Remdesivir – o antiviral desenvolvido contra o
ébola – diminui de 15 para 11 dias. Os cientistas também sugerem que o
medicamente pode ter influência na sobrevivência.
Segundo o estudo, no grupo de pessoas que recebeu a medicação, 8% morreram,
menos 3% do que aqueles que receberam um placebo. Ainda não foi encontrada uma cura
para a covid-19 e, por isso, o Remdesivir – produzido pela farmacêutica
norte-americana Gilead – poderá ser utilizado para ajudar em melhor e mais
rápida recuperação.
Em comunicado, a Gilead Sciences disse ter “conhecimento dos dados positivos emergentes do estudo do Instituto Nacional das Alergias e Doenças Infecciosas” e que “o ensaio cumpriu os seus objetivos principais”.
Para o diretor do Instituto de Doenças Infecciosas, Anthony Fauci, os dados mostram que o Remdesivir tem efeito claro, significativo e positivo em diminuir o tempo de recuperação. Ele falou na Casa Branca, ao lado do presidente norte-americano, Donald Trump. Fauci considera que foi comprovado que um medicamente pode bloquear esse vírus”. “Esse será o padrão de tratamento”, afirmou.
Os especialistas também concordam que os resultados trazem esperança no
combate à pandemia. “Esses resultados são realmente promissores. Eles mostram
que esse medicamente pode melhorar claramente o tempo de recuperação”, disse o
professor e diretor da Unidade de Ensaios Clínicos da Universidade de Londres,
Mahesh Parmar, citado pelo jornal The Guardian.
O professor lembrou, no entanto, que é necessário garantir certos aspectos
antes de disponibilizar amplamente o remédio.
“Os dados precisam ser revistos por entidades reguladoras, que avaliem se o
medicamento pode ser licenciado e, em seguida, analisados pelas autoridades de
saúde de vários países. Enquanto isso estiver sendo processado, obteremos mais
dados a longo prazo desse e de outros estudos”.
Autorização de emergência
Na sequência dos resultados positivos, a Administração Federal de Alimentos
e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) pretende emitir autorização de
emergência para o fármaco Remdesivir. De acordo com o jornal The
New York Times, essa autorização pode ser dada na próxima semana.
Em declarações à CNN, a FDA disse estar em negociações com a Gilead Sciences
sobre a disponibilização do medicamento aos pacientes:
“Como parte do compromisso da FDA em acelerar o desenvolvimento e a
disponibilidade de possíveis tratamentos para a covid-19, a agência tem estado
envolvida em discussões com a Gilead Sciences a respeito da disponibilização do
Remdesivir aos pacientes o mais rápido possível, conforme apropriado”,
disse o porta-voz da FDA, Michael Felberbaum.
Uma autorização de emergência não é equivalente a uma aprovação formal.
Significa que em casos de emergência sanitária nacional podem ser certos
medicamentos, caso não existam alternativas.
Opiniões contraditórias
O Remdesivir está entre os vários medicamentos testados contra o novo
coronavírus. Apesar desses resultados positivos, a eficácia do antiviral contra
a covid-9 ainda tem informações contraditórias.
Os resultados do estudo, do Instituto Nacional de Alergias e Doenças
Infeciosas, surgem depois de a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter publicado
os resultados preliminares de um primeiro trabalho com esse fármaco, que estava
sendo desenvolvido na China. Os resultados mostravam que o Remdesivir tinha
fracassado nos primeiros testes, mas a OMS entretanto retirou o documento da
internet.
A Gilead Sciences criticou o estudo da China, considerando que ainda é cedo
para excluir totalmente o potencial do medicamento. Em declaração, Gilead
lamentou os dados publicados, “uma vez que a pesquisa, devido à baixa amostra,
foi insuficiente para permitir conclusões estatisticamente significativas. Como
tal, os resultados são inconclusivos”.
No estudo realizado na China, entre 6 de fevereiro e 12 de março, em dez hospitais de Wuhan, participaram 237 doentes, dois terços dos quais foram tratados com Remdesivir.
A revista The Lancet publicou um resumo
do trabalho, onde é declarado que “o tratamento com Remdesivir não acelera a
cicatrização nem reduz a mortalidade da covid-19, em comparação com o placebo”.
“Infelizmente, o nosso ensaio mostrou que embora seguro e bem tolerado, o
Remdesivir não mostrou nenhum benefício significativo em comparação ao
placebo”, comentou o autor principal do estudo, o professor Bin Cao, citado em
comunicado da The Lancet.
O principal pesquisador do ensaio clínico conduzido pelo Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infeciosas disse à CNN que o medicamento “não é o fim da história” relativamente a possíveis tratamentos para a covid-19. “Temos muito trabalho pela frente. Estamos procurando outras terapias. Vamos continuar com o estudo”, disse Andre Kalil.
*Emissora pública de televisão de Portugal