Primeiros compostos começam a ser testados em abril.
Um grupo de cientistas da Catalunha criou um medicamento para ajudar no combate ao novo coronavírus. Os primeiros compostos vão começar a ser testados, em abril, no laboratório. Os primeiros ensaios em animais devem acontecer antes do verão.
Os tratamentos estão sendo desenvolvidos graças a uma parceria entre três
instituições científicas, que conta com o apoio da multinacional farmacêutica
Grifols. O Barcelona Supercomputing Center (BSC), um centro espanhol de
investigação, irá aplicar a bioinformática, de modo a ter uma ideia de como é
que o medicamento é capaz de neutralizar o coronavírus.
Já o instituto IrsiCaixa, com sede no Hospital Germans Trias e Pujol, em
Badalona, vai projetar os anticorpos com base em informações fornecidas pelo
BSC. Além disso, irá testá-los em culturas de células vulneráveis ao
coronavírus. O Centro de Pesquisa em Saúde Animal (CreSA) realizará os testes
em animais.
Em teleconferência realizada entre os investigadores da IrsiCaixa e os
institutos de Marselha, na França, e Munique, na Alemanha, foi estabelecida uma
colaboração internacional para acelerar o desenvolvimento de medicamentos e
vacinas. O que se pretende é apresentar o projeto à Iniciativa sobre
Medicamentos Inovadores (IMI), da Comissão Europeia, que este mês vai destinar
30 milhões de euros para projetos de pesquisa sobre o coronavírus.
“Não começamos do zero”, disse Alfonso Valencia, investigador do Icrea, uma
instituição catalã de pesquisa e estudos avançados.
“Durante a epidemia de ebola na África Ocidental, desenvolvemos métodos
computacionais para desenvolver terapias baseadas na informação do genoma do
vírus. No entanto, a epidemia foi resolvida antes de as terapias serem
aplicadas. Assim que o genoma do novo coronavírus foi publicado [em 10 de
janeiro], pensei que era hora de tirar proveito de todo o trabalho que tínhamos
feito”, acrescentou.Os métodos computacionais conseguem revelar a estrutura
tridimensional da proteína que o vírus usa para se conectar às células que
infecta. A partir daí, permitem perceber a maneira como os anticorpos bloqueiam
a entrada do vírus nas células.
O novo coronavírus tem proteínas chamadas Spike, que arquitetam a sua membrana
dando-lhe uma aparência de coroa, quando vistas ao microscópio, sendo por isso
chamado de coronavírus. Essas proteínas permitem que os recetores específicos,
chamados de ACE2, se mantenham na membrana celular. Diante disso,, a estratégia
será projetar anticorpos que impeçam a ligação da proteína Spike aos recetores
ACE2.
O plano de trabalho pressupõe a criação física dos anticorpos no IrsiCaixa a
partir dos dados de bioinformática fornecidos pelo BSC. Além disso, estão sendo
ser criados quatro anticorpos que estarão disponíveis para ique sejam iniciados
os ensaios em culturas de células dentro de quatro a seis semanas.
“Os anticorpos têm a vantagem de ter efeito duradouro, portanto, uma única injeção
deve ser suficiente para tratar uma infeção aguda”, explicou Nuria
Izquierdo-Useros, a investigadora que irá testar os quatro anticorpos em
culturas de células.
Desses anticorpos, serão escolhidos os que demonstrarem maior eficácia e depois
enviados a Joaquim Sagalés, do CreSA, para testá-los em animais. Caso
apresentem resultados positivos, o tratamento será testado em outros animais,
de modo a verificar a sua eficácia e segurança antes de administrá-lo às
pessoas.
A longo prazo, a parceria entre o BSC, o IrsiCaixa e o CreSA pretende também
desenvolver uma vacina contra o novo coronavírus.
*Emissora pública de televisão de Portugal